Competências docentes para a integração das TDIC na educação

Entre 2014-2015, quando escrevia minha tese de doutorado, investiguei dois documentos internacionais que descrevem as competências digitais que docentes precisam desenvolver a fim de melhor conduzir os processos educacionais na cibercultura. Neste artigo, compartilho um trecho adaptado da tese que descreve estas competências e também apresento novos documentos que foram desenvolvidos mais recentemente.

O primeiro relatório é o ISTE Standards for Teachers , publicado pela Sociedade Internacional para a Tecnologia em Educação (International Society for Technology in Education – ISTE), que a fim de ajudar a promover melhores processos de aprendizagem mediados pelas tecnologias digitais, identifica diferentes competências docentes em relação ao uso de tecnologias nos processos de ensino-aprendizagem. Dessa forma, os parâmetros ISTE para professores (ISTE, 2008) incluem critérios para avaliação de habilidades e conhecimento que os educadores precisam desenvolver para ensinar, trabalhar e aprender em uma sociedade cada vez mais digital, global, e conectada. O documento apresenta as seguintes competências:

  1. facilitar e inspirar a aprendizagem e a criatividade dos alunos, ou seja, os professores devem utilizar seu conhecimento da disciplina, da pedagogia e da tecnologia para promover a aprendizagem, criatividade e inovação em ambientes presenciais e virtuais;
  2. criar e desenvolver experiências de aprendizagem e avaliação na era digital, ou seja, desenhar, implementar e avaliar experiências autênticas de aprendizagem e avaliação incorporando ferramentas e recursos contemporâneos para maximizar a aprendizagem contextualizada do conteúdo e desenvolver os conhecimentos, habilidades e atitudes descritas nos critérios ISTE para estudantes (ISTE, 2007);
  3. exercer o trabalho e aprendizagem na era digital, ou seja, demonstrar conhecimentos, habilidades e processos de trabalho que representem um profissional inovador em uma sociedade global e digital, tais como, demonstrar fluência em sistemas tecnológicos, colaborar com estudantes, colegas e membros da comunidade utilizando ferramentas digitais, comunicar informações relevantes através de uma diversidade de mídias, modelar e facilitar o uso eficaz de ferramentas digitais para localizar, analisar, avaliar e utilizar recursos de informação para apoiar a pesquisa e a aprendizagem;
  4. promover a cidadania e responsabilidade digital, isto é, compreender questões sociais, responsabilidades locais e globais em uma cultura digital em evolução, demonstrando comportamento ético e legal nas suas práticas profissionais;
  5. engajar-se em atividades de crescimento profissional e liderança, isto é, buscar melhorar continuamente a sua prática profissional, demonstrando aprendizagem ao longo da vida e liderança em sua instituição e comunidade profissional, ao promover e demonstrar o uso eficaz de ferramentas e recursos digitais.

De forma semelhante, o Instituto Nacional de Tecnologías Educativas y de Formación del Profesorado (INTEF), na Espanha, desenvolveu o Marco Comum de Competência Digital Docente (INTEF, 2013) no qual apresenta cinco competências digitais principais para os professores atuarem na cibercultura, conforme descritas abaixo:

  1. Informação: identificar, localizar, recuperar, armazenar, organizar e analisar a informação digital, avaliando sua finalidade e relevância.
  2. Comunicação: comunicar em ambientes digitais, compartilhar recursos através de ferramentas on-line, conectar e colaborar com outros através de ferramentas digitais, interagir e participar em comunidades e redes, e desenvolver consciência intercultural.
  3. Criação de conteúdos: Criar e editar conteúdos novos (textos, imagens, vídeos), integrar e reelaborar conhecimentos e conteúdos prévios, realizar produções artísticas, conteúdos multimídia e  programação informática, saber aplicar os direitos de propriedade intelectual e as licenças de uso de conteúdos digitais.
  4. Segurança: promover a proteção pessoal a partir da proteção de dados e da identidade digital.
  5. Solução de problemas: identificar necessidades e recursos digitais, tomar decisões ao adotar ferramentas digitais apropriadas, de acordo com o objetivo ou necessidade, resolver problemas conceituais utilizando mídias digitais, resolver problemas técnicos, fazer uso criativo da tecnologia, atualizar a própria competência e a de outros.

Os dois documentos evidenciam a necessidade de se desenvolver habilidades que vão além da simples utilização técnica das tecnologias digitais, mas saber utilizá-las de maneira crítica não somente para desenvolver atividades de ensino, mas também de aprendizagem ao longo da vida e o próprio desenvolvimento profissional. Ambos os documentos foram revisados e em 2017 foram publicadas novas versões:

Outros dois documentos desenvolvidos no âmbito europeu reforçam a relevância do desenvolvimento das competências digitais por parte dos docentes na cultura digital, são eles:

No site DigComp, é possível ter acesso, de forma resumida, às competências digitais necessárias tanto para docentes quanto para cidadãos na sociedade digital como base em dois documentos da Comissão Européia: o Quadro Europeu de Competências Digitais para os Cidadãos (DigComp) e o Quadro Europeu de Competência Digital para Educadores (DigCompEdu). Nesse sentido, o site apresenta a seguinte definição para a competência digital:

A competência digital vai muito além da capacidade de operar tecnicamente um dispositivo eletrônico. Envolve a utilização segura e crítica das tecnologias no trabalho, nos tempos livres e na comunicação, seja para o uso do computador para obter, avaliar, armazenar, produzir, apresentar e trocar informações, seja para comunicar e participar em redes de cooperação via Internet. O domínio destas competências é essencial para que os usuários possam adquirir as competências digitais necessárias para o sucesso no local de trabalho e para desempenharem um papel ativo como cidadãos confiantes.

Já em relação às competências digitais docentes, o site defende que

A Competência Digital dos educadores é extremamente importante para explorar plenamente o potencial das tecnologias digitais, permitindo melhorar o ensino e a aprendizagem, preparar adequadamente os seus alunos para a vida e o trabalho numa sociedade digital.

No site também é possível realizar uma autoavaliação das competências digitais para educadores e receber um relatório com descrição do nível de competência digital atual e sugestões de como desenvolver a fluência digital para níveis superiores. Segundo o site:

“O DigCompEdu, descreve essas competências com o foco em apoiar e incentivar a utilização de ferramentas digitais para melhorar e inovar a educação. Dirige-se a educadores de todos os níveis de educação: do pré-escolar ao profissional, no ensino superior e na educação de adultos. Organizado em seis áreas, com 22 competências, propõe um modelo de progressão, em seis níveis de proficiência em grau crescente de complexidade para ajudar os educadores a avaliarem e desenvolverem a sua competência digital. Os níveis de proficiências seguem o Quadro Nível do Europeu Comum de Referência (QECR): A1 – Recém chegado, A2 – Explorador, B1- Integrador, B2 – Especialista, C1 – Líder e C2 – Pioneiro.”

O site ainda apresenta uma cronologia de documentos voltados para a descrição das competências digitais desenvolvidos no âmbito europeu e outros documentos relacionados à integração pedagógica das TDIC.

No Brasil, o CIEB (Centro de Inovação para a Educação Brasileira) desenvolveu o Guia EDUTEC, uma ferramenta de autoavaliação voltado para professores da educação básica e que tem como objetivo auxiliar o docente a identificar e desenvolver suas competências digitais. Além da autoavaliação, o site traz a descrição de 12 competências organizadas em três áreas (Pedagógica, Cidadania Digital e Desenvolvimento Profissional) e 5 níveis de apropriação tecnológica (Exposição, Familiarização, Adaptação, Integração, e Transformação).

Apesar do aumento do acesso às tecnologias digitais e sua inserção na educação contemporânea, a formação inicial e continuada de professores ainda não privilegia o desenvolvimento das competências digitais docentes, cabendo aos próprios professores buscarem essa formação por meio da aprendizagem informal. Nesse sentido, os documentos aqui apresentados, bem como as autoavaliações DigComp e Guia EDUTEC podem constituir importantes instrumentos para a identificação e desenvolvimento dessas competências de forma a melhor capacitar os professores para a integração crítica das tecnologias digitais à prática educacional.

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