Desenhando um curso on-line para formação docente

Em minha pesquisa de doutorado, investiguei diferentes modelos de formação docente para integração das tecnologias digitais na educação a fim de desenvolver um curso on-line de desenvolvimento profissional docente para a integração crítica das tecnologias digitais no ensino superior. Os modelos investigados que me auxiliaram no desenho do curso on-line “Tecnologias Digitais no Ensino Superior” foram:

Após o desenho e implementação do curso e com base nos resultados obtidos e minha própria aprendizagem ao longo da pesquisa, enumero, a seguir, algumas recomendações para o desenho de cursos on-line voltados para a formação tecnológica de professores:

  1. Possuir curta duração, evitando o excesso de conteúdos teóricos e atividades. Ao mesmo tempo, deve-se permitir aos participantes tempo suficiente para a realização das atividades, estabelecendo-se prazos definidos para a participação nos fóruns a fim de promover maior interação entre os participantes e a aprendizagem colaborativa.
  2. Promover a prática reflexiva dos participantes, aliando teoria e prática e proporcionando a experimentação das tecnologias bem como a reflexão (individual e em grupo) sobre suas possibilidades e limitações.
  3. Oferecer diferentes alternativas de encontros presenciais com o objetivo de possibilitar maior contato físico entre os participantes, a criação de laços afetivos mais fortes, maior troca de experiências e da coaprendizagem.

Além dessas recomendações, a fim de aprimorar o desenho e a metodologia do curso on-line, também pude desenvolver meu próprio modelo de formação continuada de professores universitários para a integração das tecnologias digitais que denominei de PIRA. Esse modelo é baseado nos critérios que considero essenciais para desenvolvimento de cursos on-line com vistas à formação docente para integração das TDIC a partir da experiência realizada na pesquisa de doutorado, ou seja, prática, interação, reflexão e afeto. Assim, propus o modelo PIRA, que busca atender aos seguintes critérios:

  • Prática: a concepção de “aprender fazendo” aliando teoria e prática é de extrema importância para a aprendizagem significativa. Nesse sentido, é crucial que os professores tenham diversas oportunidades de realizar atividades práticas, tanto individuais quanto em grupo, de forma a desenvolver maior conforto e confiança no uso das TDIC e na sua integração à prática docente, apropriando-se delas criticamente.
  • Interação: sob uma perspectiva sócio-histórica, esta é condição sine qua non para a aprendizagem. Nesse sentido, a interação entre os participantes deve ser estimulada constantemente, evitando que os participantes interajam apenas com o mediador ou com o conteúdo. A promoção de discussões sobre possibilidades de usos de cada tecnologia, benefícios e implicações deve ser promovida ao longo do curso, estimulando-se o debate, a troca de experiências e a coaprendizagem.
  • Reflexão: considerando a reflexão crítica como elemento fundamental para a transformação da prática profissional, este critério é de extrema importância para cursos de formação continuada transformacionais. Assim, a reflexão sobre a prática docente e a aprendizagem deve ser estimulada ao longo do curso na promoção de sessões reflexivas em grupo, na discussão em fóruns, por exemplo, e também na reflexão individual a partir da escritura de diários. Ao mesmo tempo, a interação com colegas na leitura dos diários e trocas de impressões pode contribuir para aprofundar o processo reflexivo dos participantes e a percepção de sua importância para a aprendizagem e a transformação da prática docente.
  • Afeto: considerando o afeto como condição necessária para qualquer situação de aprendizagem e reconhecendo, principalmente, o seu lugar na construção de conhecimento e na formação de professores, este é um dos principais critérios a se observar em programas para esse fim. Nesse sentido, é fundamental que o professor deseje participar do programa de formação docente e que suas motivações e expectativas sejam, dentro do possível, observadas, discutidas e atendidas. Além disso, é importante desenvolver o interesse pelas tecnologias digitais, buscando diminuir medos e crenças negativas em relação às TIDC por meio da empatia, acolhimento, suporte e trabalho colaborativo. Também é importante a criação de laços afetivos entre os participantes, estimulando-se a troca de experiências, fracassos e sucessos.

Remetendo à concepção da pira enquanto fogo simbólico e o fogo como elemento transformador e renovador, esse modelo pode ser associado ao objetivo do próprio curso on-line, que é a transformação do fazer docente por meio da prática com as tecnologias digitais, a interação com outros professores, a reflexão sobre a atividade docente e a aprendizagem, e, por fim, as relações de afeto que se desenvolvem ao longo do processo de formação continuada.

Assim, acredito que esse modelo possa contribuir para o desenho e implementação de novos cursos com objetivos semelhantes.

Nota: Parte deste artigo foi retirada da minha tese de doutorado. Para ler o trabalho completo acesse aqui.

Desenhando um curso on-line para formação docente

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